A reação

Quando um corpo A exerce uma força sobre um corpo B, simultaneamente o corpo B exerce uma força sobre o corpo A de intensidade e direção iguais, mas em sentido oposto. A força que que A exerce em B e a correspondente força que B exerce em A constituem um par ação-reação (...). Estas forças não se anulam, visto que elas atuam em corpos diferentes.

[Enunciado da terceira lei de Newton]

Chegou o momento de dar o troco. Apos os resultados dos consursos de ATER (attaché temporaire d'enseignement et de recherche -- contratado temporario para ensino e pesquisa, nosso "professor substituto") aos quais eu me candidatei, eu teria duas opções :

(1) permancer um ano a mais na "equipe" (palavra irônica no contexto) dos meus orientadores (outra palavra irônica). Dar aulas de bioquimica e analise de alimentos pro curso de engenharia de alimentos do ENSAIA. Continuar a pesquisa com a super "equipe" atual, gerando resultados a uma velocidade astronômica, sozinho, e fazendo de conta em publico que o diretor da tese participa de tudo.

(2) ir para o outro lado da França, na região da Bretagne. Dar aulas de fisico-quimica elementar e de informatica elementar pro curso de farmacia da Université de Rennes. Participar de um projeto de pesquisa que, por enquanto, eu nem sei em que area é.

Escolhi a opção 2. Sou jovem, vou para uma cidade diferente, trabalhar com outras pessoas, em um assunto que, apesar de ser dentro da minha area de formação, sera novo (isso é excitante !). Meus orientadores estão bastante "chocados", apesar de serem vaidosos demais para o expressarem abertamente. Mesmo com eles fazendo de conta que nada esta acontecendo, é flagrante que eles estão frustrados e inquietos... pois vai levar um tempo para que um eventual substituto meu adquira um certo grau de autonomia para continuar a conduzir a pesquisa de maneira produtiva - e eles poderem se exibir em publico sem fazer nada.

Cedo ou tarde, eu sabia que a vida me daria as balas para atirar de volta. Ficar seria masoquismo. Partir não é egoismo: é apenas amor proprio e senso de iniciativa de procurar me cercar de pessoas suscetiveis de me tratar com um minimo de respeito profissional.

Dangerous wishies (dasabafo)

Meu coração é capaz de sentimentos que eu jamais pudera sequer supor que existissem : eu agradeço a meus orientadores de doutorado por terem me ensinado que eu posso ser capaz de odiar alguém ao ponto que eu os odeio. Eu fecho os olhos e me divirto compondo roteiros de historias em que eles têm o fim que merecem.

... eu os vejo sufocar-se dentro de um restaurante com osso de galinha entalado na garganta, rolando pelo chão pedindo ajuda enquanto os outros clientes saboreiam suas taças de champagne como se nada estivesse acontecendo. Eles puxam o forro de uma mesa e um monte de pratos sujos caem na cara deles no momento em que eles dão a ultima estrebuchada.

... eles entalam o pé numa vala no meio do mato e são picados por um escopião amarelo da espécie Tityus serrulatus, sem mais ninguém por perto. O unico som que eles ouvem antes de partir de vez pro inferno é o craaa...craaaaaa... dos abutres que espreitam, atraidos pela carniça que eles ja exalam de qualquer forma, mesmo em vida.

... no enterro deles, tocaria uma musica - composta por mim - que fala do quanto eles foram narcisistas, incompetentes, hipocritas e cinicos. E que o mundo sera mais leve, com uma atomosphera mais limpa, agora que eles nao estao mais aqui para polui-la com o ar podre que sai das bocas fedidas e cheia de dentes enegrecidos que eles têm, apesar do salario enorme (e injusto) que eles ganham. Eu deixaria um auto-falante do lado do tumulo deles, tocando a musica por toda a eternidade.